"Foi assim ..."


-I-

Em dias de temperatura fervente, em que célsius acrescentados fazem saltar trapos e arregalar olhares discretos, o masculino e o feminino são atraídos consoante o paladar. Ali as escolhas são, consideravelmente, escolhidas pelo atractivo ao olho, e as opiniões são proporcionadas pela mente dos sujeitos. Havia um feminino e um masculino. Vénus rodou a linha de Marte, e Marte possibilitou-lhe curvas de convencido, presunçoso, impenetrável diria; o olhar semi-serrado com ares desconfiados, e o andar, esse, era relaxado; boa aparência, pele morena, lábios grossos, e outras indefiníveis e imperceptíveis aparências. Vénus fomentou-se com percepções e com julgamentos antecipados, no íntimo, a questão resumia-se ao interesse e à negação da exploração. Na vontade de um não surgiu, no algures, a possibilidade de um sim, sem contacto, sem as frequentas manias de apresentação, houve, apenas, o aproximar de metros entre corpos distantes. A apresentação surgiu em tempo nocturno, nada anormal, e foi pela caminhada dirigida para o indefinido, que Vénus pensava como falar a quem já tinha definido personalidade. Em banco de jardim, era chegada a hora da mentira curta apanhar a verdade lenta, Marte fazia-se acompanhado da primeira e de uma segunda Vénus. Pelas perguntas confirmadas e falseadas começou o verdadeiro sentido da expressão conhecer. Em frases, viu em Marte um senhor diferente, retirava-lhe o título de convencido, e acrescentava-lhe o de sincero, deixava a presunção e captava-lhe a modéstia, o palavreado retinha expressões não usuais aos seus ouvidos, que haviam rapidamente sido ligadas á figura na hora interpretada. No entanto, via-lhe o tipo, topado num acrescento de lista, e fazia a exigência de ser-lhe diferente!

Diferente foi a conversa, seguindo-se por mais duas horas. Os temas eram relacionados com um, ou com o outro, mostrando como personalidades eram divergentes e visões convergentes. Vénus expelia palavras a considerável velocidade em significado pelo gosto da companhia, que mesmo que quisesse travar batalha, não o faria pela tosse que persistia, e pela falta de roupa que a induzia. Afins de uma batalha justa, houve propostas para afastamento de ventos frios, foi na partilha e devolução da veste que ocorreu nova expressão facial, marcando as primeiras horas, do primeiro, antes do último!


-II-

Não se avizinhava outro dia, ainda era o mesmo, a conversa continuava, fazia-se na ordem do vulgar no intuito do despiste ao objectivo idealizado.

Investidas inconclusivas deixavam a mensagem de que novas se aproximariam, não distintas, latejantes! Enquanto não, ofereceu-se o abraço de significado variável e observaram-se as concavidades orbitais com esperança de acompanhar a órbita! Vénus tinha a vontade e o medo também. Evitava fortes e inevitáveis desilusões, pesados sentimentos frustrados e verídicas verdades absolutas.

O circular brilho centrado, assemelhava-se a espectador no auge da curiosidade e as passivas e inconstantes ondas fazem o vaivém, esperando acertar no segundo certo.

Foi na jornada de regresso que cena fica completa, não se vendo, nem se pressentindo quem da assistência faz parte, revê-se local prezado a prazeres carnais e concretizam-se investidas latejantes!


-III-

Encontram-se novamente e desta vez é para jogar. A jogada é dupla e consiste na repetida roçadela de perna e no lançamento de dados. Vénus divide-se pela sensação de presença /ausência de vegetação e Marte prima pela indecisão de Vénus e pelos seus próprios limites definidos.

Ela chama-lhe em pensamento acto de selvajaria. Em segundos susto, em segundos mais, percepção do susto! Chamar-lhe-á cumplicidade estranha, vivenciada em primeira vez, se achado for o direito de o chamar sem sabe-lo como definir.

Saía-se-lhe a personalidade dele e entranhava-se-lhe a dela! A selvajaria da roçadela e a visão de quem a guarda, fazem-na parar e ficar serena! Compara-se-lhe a calma do predador que anseia conhecer todos os passos da “presa”! Acaba o jogo! A frustração desculpa-se com o jogo bem jogado, pela jogada visível do que falta faz, e da inexistente jogada que por arriscada não é revelada!

Faz-se nova paragem antes da banalidade, por locais ainda não conhecidos. Esforça-se pela descontracção ainda que a confusão seja a ordem do pensamento, porque se trata do esquisito da situação, da “estranha” pessoa e do desconhecido lar. Ele age sem hesitações, como parte do que faz, a pessoa que conheceu tem horas não lhe faz confusão porque é do hábito e personalidade que transporta e ela, apenas consegue questionar, repelir e dialogar! E fá-lo porque não sabe como lidar com o local, o momento e a pessoa, que não quer experimentar sensações discursivas, mas que prefere as bucais, as tacteais, a pessoa, “estranha”! Quando algumas destas coisas são suficientemente partilhadas, os rumos voltam a mudar com a deixa de encontro breve.


-IV-

A breve separação é rompida no fim de tarde, pelos caminhos que insistem mostrar o único e possível protagonista da dupla espaço/tempo. Ali o tempo é curto e fica interpretado por cada mente, se vai rápido ou se fica lento, e se no agora se ouve “xau” no depois se ouve olá.

Os elementos figurativos sofrem o acrescento de pontos brilhantes e do posicionado e irregular círculo reluzente no alto escuro, quanto a personagens, apenas as principais se mantêm com ligeiras diferenças de comportamento.

É sobre chão granulado e disperso que se contabilizam palavras, beijos, toques, desejos, e na ordem o interesse aumenta, as palavras restringem-se às essenciais, os beijos revelam-se qualquer coisa, os toques atrevidos e os desejos ficam-se pelo pensado!


-V-

O movimento apressara-se e o calor estimulara ao regelo da noite.

A manhã direccionara-se à cata de bens transportadas pelo maior inclino do planeta, e foi em gesto de cansaço que se decidira a repousar por parentes próximos dos que recentemente guardará, e foi quando estancada que reconheceu o perfil que fazia uma perpendicular arqueada x graus dos seus olhos ao seu corpo, passarinhava em direcção ao infinito. Os bons dias manipulados em pensamento seriam, agora, facultados em modo de surpresa. Sem ses, levantou-se e olhou o mesmo infinito, deixou as gentes atropeladas pelas conversas transversais, e silenciosamente banhou-se e progrediu além, contrariou a transgressão para o finito e atingiu o alvo. Marcou-o com o susto e retribui-lhe, apoiando-se, com um beijo inteiramente molhado aconchegado pelo salgado sabor. Fez renascer em corpo e mente o desejo significativamente perceptível até à sacudidela molhada que o levou!

Voltou ao local, mas desta vez com o objectivo compartilhado por dúzias de indivíduos, sem, voltou ao retiro aguardado, e foi aí que a sacudidela o trouxe de novo!


-VI-

Por fáceis contas chegava-se àquele que seria o último das últimas. A noite que retém número perfeito, a noite que testa paciências a Vénus, que ansiosamente esperava resposta de oposto para confirmação de últimas trocas presenciais. Minutos foram-se somados cinco a cinco, a manga do traje executava repetidas vezes o movimento de ascensão e o contador de tempo dava-se como gasto da observação.

Aquela espera enervava e dificultava qualquer outro pensamento que tentasse distrair o que realmente a importunava, viria ou não? Seria tão simples se sim/não ocorrem-se em alternância de talvez, talvez que pressentia uma vontade fraca, o que facilmente lhe estimulava ainda mais os nervos.

Ouve-se o sinal.A fraca vontade traduz-se na modesta quanta parte que deseja.

Primeira estância ocorre novamente em banco de praça, em frente de pastelaria, decora-lhe o nome de vezes que olha mas rapidamente se a esquece, pelos motivos que os fazem ocupar aquele frio local. O tempo reduzido aproveita-se numa segunda estância, o local se não se o mesmo, deve-se a escassos afastamentos de metros, uma vez que todos os elementos permanecem tal e qual como na noite anterior, apenas o tempo avançara!

O rebentar de ondas, a húmida areia, o ponteado céu, a serenidade, o repousado coração, são factores que em muito contribuem para aquilo que de qualquer coisa boa se trata.

Classificou-a em jeito estranho e invulgar, disse-lhe, já quase em fim da noite, de forma calma – Tu… És qualquer coisa (pausado e com a expressão de ideia arrancada de lá do fundo), responde risonhamente – Sou qualquer coisa! “. Não foi grande o valor retido daquela pequena e sugestiva observação, talvez pela falta de compreensão imediata, conjuntamente ligada ao pouco conforto do elogio.

Resfriada fica do húmido que lhe entranha a roupa, e um tremor compulsivo solta-se, senta-se e repete que irá passar. Não passa, o encosto fará agora de banco, e na intenção de uma pausa rápida do batido dente abraça-a, prolonga-se por breves instantes, capazes do término do dente batido, e consigo do abraço.

Os últimos instantes surgem, do salteado ao compacto, estabilizam novamente. Vénus sobe o alteado chão em formato rectangular em detrimento da sua diminuta estatura e Marte returque o gesto mandando-a descer, não se ficando objectiva que se sentem, com todos os músculos relaxados exceptuando-se o mais poderoso fazem-se as penúltimas despedidas. Desta vez a explosão de palavras cabe-se-lhe ao oposto, ouve-o, e novamente o introduz – És qualquer coisa (em gesto carinhoso e olhar fixado)! Fica em suspenso uma contínua troca de informação a que tudo irá dever as ínfimas horas partilhadas.

Últimas despedidas realizam-se em rua deserta e habitada apenas por aqueles que ali estavam, o beijo, o adeus, a passada em afastamento, as costas em simetria, e um caminho sem recuo de olho… Fora a última daqueles próximos tempos.

Em retiro, e agora sozinha pensava naquela sugestiva classificação (...)

Fim

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