[...], enamoramento, [...]

Alguns exemplos de patologias dos pares amorosos:
“Há sujeitos que querem viver apenas o presente, sem preocupações, sem exigências. Não querem recordar o passado, não querem saber nada um do outro, se pudessem nem sequer diriam o seu nome. Acontece na adolescência, ou em férias, ou em viagem, ou durante breves permanências no estrangeiro. Mas existem também indivíduos que querem conservar a própria liberdade e não desejam estabelecer laços duradouros. Em todos estes casos, não é despoletado o processo de conhecimento recíproco, que ocorre apenas quando se pretende ver o mundo através dos olhos do outro, nem o processo de confronto, que permite abandonar as facetas de si próprio incompatíveis com o avanço da relação amorosa […] Por isso, decorrido um certo período de tempo, finda a fase de total embriaguez erótica, os dois indivíduos descobrem entre si diferenças incompatíveis e o enamoramento acaba em dispostas e recriminações.
Uma […](“outra”) e frequente causa da patologia do par amoroso deriva do facto de os dois enamorados preferirem não acreditar que os seus projectos de vida são verdadeiramente incompatíveis. Não querem acreditar que as dificuldades que encontram sejam um “beco sem saída”, um valor ou um sonho ao qual nenhum dos dois está disposto a renunciar. Ela quer ser actriz, ele quer que ela fique em casa. Ele quer filhos, muitos filhos, ela ambiciona uma carreira. […] Mas o amor é forte, empolgante, cada um quer realizar o seu próprio objectivo mas, para não estragar o amor, não fala nisso. Adia o problema, espera que o outro mude de ideias, diz a si próprio que as coisas se ajustarão. Neste caso, o casal cresce com uma divergência que não se manifesta. Na realidade, age de modo sub-reptício e, a certa altura, explode inevitavelmente.”

“De Rougemont defende que os enamorados desejam arder de paixão e que os obstáculos postos no seu caminho servem exactamente para isso. De facto, está convencido de que a paixão é, pela sua própria natureza, efémera e está destinada a esvair-se num instante. “ O ardor amoroso espontâneo, não contrariado, é, pela sua essência, pouco durável: uma chama que não pode sobreviver àquele calor que tudo consome. Mas a sua queimadura é inesquecível e é ela que os amantes querem prolongar até ao infinito” Ibidem. Por isso se separam, por isso inventam novos obstáculos, para poderem arder de paixão. Porque a paixão alimenta-se não da presença, mas da ausência.”
“ O obstáculo alimenta a paixão”
“A paixão pelo afastamento é, por seu turno, um amor que se alimenta do obstáculo.
E existem pessoas que conseguem suscitá-lo de um modo intensíssimo.”
E existem pessoas que conseguem suscitá-lo de um modo intensíssimo.”


Excertos de:
“O Mistério do Enamoramento” de Alberoni, Francesco ; Edição: 2003 Editora: Bertrand Editora, Lda.
Comentários
Mais uma boa escolha :)
obrigada Ana